:: Avisa Lá Salvador ::
:: Avisa Lá Salvador ::
VILA CANÁRIA

Bucólica, com muitas fazendas, bicas de águas cristalinas, matas e pássaros. Assim era o bairro de Vila Canária quando surgiu por volta da década de 70. Antônio Carlos de Andrade Moura, morador do bairro há 28 anos e vice-presidente da Associação da Comunidade de Vila Canária (Acovica), conta como em seu nome o bairro carrega também sua memória poética: “Segundo falam, o nome Vila Canária surgiu por que aqui, como era uma mata, tinham muitos canários”. Nessa época o bairro não tinha água, luz, estrada e nem transporte. O bairro tem seus limites territoriais com Castelo Branco, Pau da Lima e Sete de Abril, sendo entrecortado sutilmente pelo rio Ypiranga. Antigamente, Vila Canária era considerada loteamento Pau da Lima e hoje ainda é um bairro pouco conhecido. Os moradores lembram que nas antigas contas de luz o endereço não vinha constando o nome do bairro.

Fonte: Cultura no ponto/Fundação Gregório de Matos. V.1, Salvador: FGM, 2006

 

 
Área
MIOLO CENTRAL
 
Depoimentos
“Há mais ou menos 40 anos, a Fazenda Canária transformou-se em um loteamento, de onde nasceu a Vila Canária. No início, a população não tinha nem água, nem energia elétrica e o mato era só tiririca. Havia duas bicas de água cristalina na parte baixa, uma na direção do bairro Sete de Abril, que parecia uma cachoeira, e outra no bairro de Pirajá. Havia ainda uma terceira numa área pequena que parecia um descampado. Mas logo a população descobriu a ventosa da Embasa próximo à minha casa e decidiu pegar água dessa tubulação. A empresa veio aqui em Vila Canária e montou um chafariz”.
Valdemiro Rodrigues de Cerqueira, o Miro da rádio comunitária do bairro de Vila Canária

“Moro em Vila Canária desde 1976. Desse lado só tinha mato e o bairro só existia do largo para lá. A gente descia perto de Sete de abril para pegar água na cabeça, e depois de alguns anos colocaram um chafariz. Essa fonte era muito boa, mas hoje foi aterrada.
Não tinha ônibus, a gente descia no inicio de Pau da Lima. O acesso para Castelo Branco praticamente não existia e a gente ia estudar lá. Eram só uns caminhos.
Não tinha nenhuma igreja por aqui. A gente começou com a igreja católica a partir de um terreno doado por Seu Elias. Começamos com um grupo de jovens que fazia alguns eventos para arrecadar dinheiro para construir.
Associação só tinha uma, a de seu João, lá embaixo. Só ele era quem comandava. Depois surgiu essa outra aqui em cima, mas foi começada por nós aqui da igreja. A Acovica tem feito alguma coisa pelo bairro.
Aqui tem vários grupos de música. A música contagia e a juventude se identifica mais. Aqui o que mais cresceu foi a música.
A igreja tinha as pastorais e no início a gente conseguia muito dinheiro com o teatro. Eu participava ativamente do teatro e foi muito boa essa época. As peças retratavam as situações da vida.
Hoje, eu ouço as pessoas falando mal do bairro. Antes quando não tinha muita gente era tão tranqüilo... Hoje as pessoas não respeitam o outro, o bairro cresceu muito, os políticos vêm, mas ninguém acredita mais...”.
Maria Rosa da Silva Barreto, cabeleireira, diretora social da Acovica.

Fonte: Cultura no ponto/Fundação Gregório de Matos. V.1, Salvador: FGM, 2006
 
Na Mídia
:: VILA CANÁRIA VIVE À SOMBRA DO PASSADO
A TARDE, 29.07.2000, Local, p.4, José Araújo Neto
 
Atrativos
COMUNIDADE CATÓLICA DA PARÓQUIA CRISTO OPERÁRIO
A partir da necessidade de movimentação religiosa e cultural da comunidade, a Paróquia nasceu juntamente com o bairro em fins dos anos70. Hoje, desenvolve muitas atividades sociais e culturais através de suas várias pastorais e grupos artísticos.

MINISTÉRIO DE MÚSICA MISSIONÁRIOS DE JAVÉ
Formado há quatro anos, o grupo católico trabalha com ênfase principalmente nos aspectos vocais. É um coro com acompanhamento de teclado, violão, baixo e bateria cujas temáticas voltadas para um público jovem abordam o louvor a Deus. Integrantes: Marinês Santos Lima (voz), Flávia Rocha (voz), Marcos Silva Souza (voz), Catiane de Jesus Souza (voz), Alan Ilbert Santos Brasil, conhecido como Peti (bateria), Miriam dos Santos Veloso (voz e teclado), Luciano Santos de Oliveira, (violão) e Mônica Machado Muniz, (intercessora), Antônio Bonfim, conhecido como Tony (baixo).

RÁDIO V N COMUNITÁRIA
A Rádio V N Comunitária foi fundada em setembro de 2000 pelo casal Valdemiro Rodrigues de Cerqueira e Nilda Maria dos Santos Cerqueira. Além da programação musical, presta serviços gratuitos à comunidade com anúncios de achados e perdidos, divulgação de oportunidades de emprego, festas, sepultamentos, notícias dos jornais, etc.
Cumprindo um papel fundamental à comunidade de Vila Canária, a rádio hoje é modular, funcionando com alto-falantes espalhados pelo bairro. Anteriormente funcionava como FM, até ocorrer o triste incidente com a polícia federal que apreendeu seus equipamentos.

KIHON KARATÊ CLUBE
Fundada há 20 anos pelo professor Catarino, que mora há 23 anos no bairro, a escola é filiada à FBKSC (Federação Baiana de Karatê Semi-Contato), cujo presidente, desde a sua fundação, em 1996, é o próprio professor Catarino. A escola já trabalhou com vários jovens de Vila Canária e hoje, juntamente com a parceria da Acovica, pretende atender cerca de 50 jovens da comunidade.

CATÁLOGO CULTURAL

BANDA AFRO REVOLUÇÃO NEGRA
Formada há sete meses, a banda afro Revolução Negra é composta por 10 vizinhos de uma mesma rua. A influência comum a todos é o Olodum. Com um discurso extremamente engajado sobre a valorização dos bairros, conseqüentemente a valorização da cultura afro-descendente, de sua auto-estima e identidade, a banda ensaia de graça na sede da Acovica e concorda que, em relação à cultura local, não existem muitas opções no bairro.
Integrantes: Mestre Lindomar (professor), Larisson Cunha, (marcação), Juscelino Chagas da Silva, (repique), Jonatas Jesus Santos, (repique), Fábio Rogério, (repique), Jovinês Jesus Santos conhecido como Buiú (fundo), Ednílton Santos Rêgo, (marcação), Elton Vagner, (caixa), Juari Santos Almeida, (fundo), Mônica Pereira da Silva, (voz) e Débora Tamires Oliveira, (voz).

GRUPO IDENTIDADE DO SAMBA
Antigo PSA (Para Sempre Amigo), posteriormente os integrantes renomearam o grupo para enfatizar a questão das "raízes". O grupo foi formado há quatro anos com o objetivo de resgatar o samba tradicional, de partido alto.
Integrantes: Jaqueson Oliveira Matos da Cruz, (repique e pandeiro), Jaques Cruz Lima, (vocal e tan-tan), Cláudio Rogério Cruz Lima, (cavaquinho), Rodrigo Santos Rocha, (surdo) e Jardel Oliveira Matos da Cruz, (cavaquinho).

NEL DIAS
Cantor, violonista e compositor, Nel mora no bairro há 25 anos. Atua na noite como músico profissional há cerca de 10 anos e expressa maior identificação com a MPB. Em sua fala sobre o bairro, expressa a necessidade de maior movimentação cultural.

BANDA DE FORRÓ MARIA D´ PALMA
Com um ano de existência, o grupo abraça a proposta de fazer forró pé de serra. O nome faz alusão à palma forrageira, planta que resiste ao clima árido do sertão e é bem característico desta região, metáfora para a dura realidade de fazer música no nordeste do Brasil. Na realidade, a única moradora de Vila Canária é a cantora que iniciou seus estudos musicais com o próprio Maurício, sanfoneiro da banda.
Integrantes: Maurício conhecido como Rico (acordeom), Taís (voz e triângulo), Sérgio (baixo), Kbção (violão) e Biera (zabumba).

ELIZABETE RIBEIRO
A artista plástica, mais conhecida como dona Dete, é moradora do bairro há mais de 30 anos. Passou a pintar há quase três, desde que seu braço direito foi amputado e teve a oportunidade de desenvolver seu talento a partir das oficinas gratuitas oferecidas pelo Cepred (Centro Estadual de Prevenção e Reabilitação de Deficiências), onde passou a fazer fisioterapia. Já realizou exposições de seus quadros e também tem vendido algumas telas em lojas do Pelourinho.

GRUPO DE DANÇA SWING QUEBRADEIRA
Tendo à frente o professor Adaílton Santana Alves, a proposta do Swing Quebradeira é proporcionar uma atividade artística aos jovens de Vila Canária. O grupo dança várias modalidades como o pagode, o arrocha, o axé baiano e até a valsa. Passou a ser Swing Quebradeira desde 2005, quando abriu a academia que funciona no espaço da Acovica. Hoje, o grupo está parado por falta de manutenção de som. Quando em atividade reunia, no total, cerca de 30 pessoas, entre garotas e garotos.

Fonte: Cultura no ponto/Fundação Gregório de Matos. V.1, Salvador: FGM, 2006
 
 
 
Curiosidades
ESPORTE CLUBE YPIRANGA
Palco de tantas memórias, transformações e arte, Vila Canária é apresentada na fala das pessoas como um bairro pacato, bom de se morar, além de servir como sede ao Esporte Clube Ypiranga, tradicional time do futebol baiano fundado em 1906, é um espaço cultural em potencial com a extensão de 65.000m2. Por conta da urbanização violenta, onde prevalece a falta de espaço e de projetos sociais e culturais, já não existem tantos canários. Contudo, permanece a importante força e sinceridade da voz ativa dos jovens cheios de disposição e sedentos pelo mundo, que querem movimentar o bairro e ter possibilidades para transpor as barreiras do preconceito, seguindo seus caminhos conforme seus sonhos.
 
Personagens
MESTRE CATARINO
Professor de karatê há cerca de 25 anos, Catarino da Costa Oliveira, 50 anos, também conhecido como Shihan Catarino, mora em Vila Canária há 23. Natural de Maragojipe, ele nunca pensou em fazer karatê, até que no SESC, enquanto cursava o supletivo, teve o primeiro contato com esta arte marcial, tendo como mestre Alberto Fonseca fundador da Associação Desportiva da Bahia (ASDEB). Desde então, Catarino pratica o karatê ininterruptamente, mesmo tendo se aposentado por invalidez ao colocar um marca-passo, quando era inspetor de segurança do Shopping Iguatemi.
Catarino recebeu o título de Shihan, alta hierarquia do karatê na qual se encontra no VI Grau ou Dan: “O máximo é o Dan X, mas poucas pessoas chegam a este nível, geralmente só o atingem quando alcançam idade mais avançada e ainda maior maturidade no karatê, não no sentido físico, mas, sim no filosófico”, explica o mestre, que já formou cerca de trinta faixas pretas, dentre eles seus quatro filhos.
Como presidente da Federação Baiana de Karatê Semi-Contato (FBKSC) desde a sua fundação em 1996, Catarino já conquistou quatro títulos de campeão brasileiro por equipes com a seleção baiana de karatê (1996, 2002, 2003 e 2004). Além de defender as cores do estado nas competições que disputa, a Federação promove cursos de extensão sobre a história das artes marciais e cursos técnicos de karatê para o público em geral, tanto em Salvador como em cidades do interior.
Desde que passou a morar em Vila Canária, Catarino desenvolve um trabalho educacional através do karatê atendendo a crianças e jovens da comunidade e do bairro de Castelo-Branco, com cerca de 150 crianças. O mestre ressalta a importância do incentivo ao esporte em geral, principalmente o karatê: “Eu gostaria de dizer aos pais que incentivem seus filhos a fazer esporte. O karatê, por exemplo, ensina a ter disciplina e responsabilidade, até as notas dos alunos melhoram”.

Fonte: Cultura no ponto/Fundação Gregório de Matos. V.1, Salvador: FGM, 2006
:: Avisa Lá Salvador ::