:: Avisa Lá Salvador ::
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CAMPO SANTO

A tradição de se enterrar os mortos em cemitérios é um costume recente na Bahia. Até meados do século XIX os enterros eram realizados dentro das igrejas, ou em terrenos ao fundo, e ficavam, então, sob a custódia das irmandades, as quais lucravam com os enterros e com as grandes heranças deixadas pelos mortos. A tendência médica da época apontava os enterros, tais como eram feitos, a principal forma de se transmitir doenças pelo ar. Pesquisas médicas indicavam que o melhor seria fazer os enterros a muitos palmos abaixo da terra, em lugares afastados da cidade e altos. Desta forma foi iniciada a construção do Campo Santo em área adequada, por particulares. Além de ferir os costumes da época, o Campo Santo mexeu na renda das irmandades, ocorrendo, no dia 25 de outubro de 1836, uma revolta, fazendo com que o cemitério do Campo Santo, que seria inaugurado, tivesse muitos muros e sepulturas destruídos. A revolta foi liderada por membros das irmandades, que, ao final de tanta confusão, conseguiram que a concessão do Campo Santo ficasse com uma delas, a Santa Casa da Misericórdia, a mais poderosa da época. O cemitério, então, só seria inaugurado em 1844.

 

 
Área
FEDERAÇÃO
 
Depoimentos
CAMPO SANTO
“O que eu assisti muito no Campo Santo foi enterro de gente pobre, alguns de gente de Candomblé: daquele enterro com o ritual de três passos para frente, dois passos para trás. Vi, também, aquela coisa de botar o chapéu do morto sobre o caixão e só retirá-lo na hora de o caixão baixar na cova. Assisti muitos enterros de gente importante e comi muita pitanga do Campo Santo: bonitas, grandes, vermelhas, das pitangueiras que limitavam as bordas das poucas ruas que separavam as poucas quadras que o Cemitério tinha. As pitangas deixaram saudades. O Campo Santo nunca teve o aspecto de um estabelecimento lúgubre; está situado num morro ventilado, arborizado, de clima agradável”. (Cid Teixeira)

MISERICÓRDIA
"Todo mundo conhece aqui a lenda ou a história, não sei, depende da crença; da rainha de Portugal que protegia os pobres, levava comida contrariando a vontade do rei, Dona Leonor. Todo mundo conhece a história dela, de que em determinada altura ela foi interpelada sobre o que é que ela levava escondido no regaço, que era comida e coisas assim. Ela respondeu: são flores e abriu e eram efetivamente flores, ocorrendo o milagre. A Misericórdia foi uma espécie de – eu estou falando, dando aula mesmo, não estou fazendo conferência nenhuma - A Misericórdia foi uma espécie de INPS da colônia. Para que você entenda a coroa portuguesa só tinha dois verbos, o verbo lucrar e o verbo ordenar; isso é não brigando e pagando imposto, está todo mundo feliz, não precisa brigar coisa nenhuma. Mas as cidades cresciam, as cidades cresciam e as necessidades chegavam; é preciso enterrar os mortos, é preciso vestir os nus, é preciso ter os presos encarcerados, é preciso – em suma – realizar as obras de misericórdia. Criou-se então em Portugal, as casas da Santa Misericórdia que eram instituídas, como até hoje são as Santas Casas de Misericórdia, instituições privadas, particulares que se ocupam de atender àquilo que é a prestação dos serviços comunitários que cabe ao estado. Nós até hoje temos seqüelas disso na Bahia, o cemitério do Campo Santo é propriedade da Santa Casa da Misericórdia, a Pupileira, ali, no Campo da Pólvora, ali, em Nazaré é propriedade da Santa Casa da Misericórdia; o hospital Santa Isabel é propriedade da Santa Casa da Misericórdia; todos, heranças do tempo em que os serviços assistenciais estavam entregues aos particulares, o poder público não estava nem aí para saber quem está doente. Os hospitais da Misericórdia nasceram em função exatamente dessa situação. A rua onde está o hospital da Misericórdia, está lá até hoje o hospital, onde estava a repartição central, onde estava a capela, onde estava a administração, passou obviamente a ter o nome de Rua da Misericórdia.” (Cid Teixeira)
www.cidteixeira.com.br
 
Na Mídia
:: CAI A PERPETUIDADE, UMA TRADIÇÃO DO CAMPO SANTO
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 07.08.1975, Segundo Caderno, Ne
:: COMO VÊEM A MORTE OS QUE VIVEM DELA
TRIBUNA DA BAHIA, 03.06.1976, Cad.2, p.9
:: NO CAMPO SANTO RICOS E POBRES SE NIVELAM. É A MORADA FINAL...
DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 31.12.1978, Cad.2
:: A BELEZA QUE AGRADA OS SENTIDOS E CONFORTA
A TARDE, 01.11.2006, Salvador, p.8, Mary Weinstein
 
Atrativos
- CIRCUITO CULTURAL DO CAMPO SANTO
A Santa Casa da Misericórdia, seguindo o exemplo de muitos cemitérios ao redor do mundo, irá incluir o Cemitério no roteiro turístico de museus de Salvador. Os mausoléus há muito já vêm chamando a atenção dos estudantes de arte, pesquisadores e turistas estrangeiros, pois são verdadeiras obras de arte, exibem estatuetas, arabescos, esculturas de anjos e santos, uma grande variedade. Os principais atrativos deste novo museu estão no estilo arquitetônico dos mausoléus antigos, na arte tumular do séc. XIX, nas esculturas de mármores vindos da Itália, e na grande atração de poder visitar jazigos de grandes personalidades da história baiana, como, por exemplo, o poeta Castro Alves, Aristides Maltez, Lauro de Freitas, Octávio Mangabeira e Antônio Carlos Magalhães, algumas famílias ilustres como a Amado Bahia e Martins Catarino, alguns governadores e artistas da Bahia.

FIGURAS HISTÓRICAS SEPULTADAS NO CAMPO SANTO

- ALBERTO MARTINS CATHARINO (1917-1990)
Engenheiro civil, membro de tradicional família, O mausoléu é uma reprodução cênica da ressurreição. O anjo na entrada do sepulcro, em uma pequena elevação, é alusão às montanhas sagradas. Refere-se também à idéia de uma morada, a ultima, ou lugar de “dormição”, enquanto se espera a ressurreição. Há a inscrição em latim: “Essurrex non est hic” (Ressuscitou não está aqui). A escultura é da autoria de Pedro Ferreira
(quadra 1).

- ALFREDO THOMÉ DE BRITTO (1863-1909)
Professor de Clínica Médica, primeiro a realizar uma radiografia na América do Sul Foi pioneiro mundial da Radiologia de guerra, em 1897, através de um exame efetuado em um ferido na Campanha de Canudos. Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, que, entre 1905 e 1908, reconstruiu o prédio da instituição, no Terreiro de Jesus, o qual havia sido destruído por um incêndio.

- ALOYSIO DE CARVALHO E ALOYSIO DE CARVALHO FILHO (pai e filho -1886/1942 e 1901/1970)
Baianos famosos, pai e filho, o primeiro, sob o pseudônimo de Lulu Parola, foi crítico e poeta satírico. Seu sarcasmo era suave, a sua ironia sutil, algo malicia, fazendo mais rir do que chorar. Também poeta lírico, a sua lira tinha encantos admiráveis. De 1891 a 1919, no seu Jornal de Notícias, manteve a seção Cantando e Rindo. Foi um dos grandes jornalistas do seu tempo.
O segundo, jurista, escritor, brilhante professor catedrático de Direito Penal da Faculdade de Direito da Bahia, Deputado Federal e Senador da República. Ambos estão sepultados na quadra 3.

- ANFRÍSIA SANTIAGO (1894/1970)
Destacada educadora de expressão nacional, notável pesquisadora de assuntos históricos, em fontes primárias (fez inúmeras pesquisas para o historiador Pedro Calmon). Fundou e dirigiu o Educandário N.S. de Lourdes, localizado na Av Joana Angélica (Salvador). Diretora de Ensino da Secretaria de Educação e Cultura do Estado, teve seu nome inscrito na Ordem Nacional do Mérito, por proposta do Ministro da Educação, professor Clovis Salgado. Foi sepultada em uma campa da quadra 17.

- ANTONIO DE LACERDA (1834/1885)
Dinâmico engenheiro e homem de negócios. Na segunda metade do século XIX, construiu o primeiro elevador público de Salvador – Elevador Hidráulico da Conceição, inaugurado em 1873, ligando a Cidade Baixa à Cidade Alta. Modernizado em 1920, o ascensor passou à denominação de Elevador Lacerda. Antônio de Lacerda, Irmão da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, é o autor do projeto e construtor da Igreja de N. S. das Vitórias, mais conhecida como Igreja da Pupileira, inaugurada em 29 de junho de 1876. Seus restos mortais estão depositados em um ossuário, na quadra 5.

- ANTÔNIO DE CASTRO ALVES (1847/1871)
A 7 de julho de 1871 foi sepultado, no Carneiro 527 do Campo Santo, o corpo de Antonio Frederico de Castro Alves, que falecera no dia anterior, aos 24 anos de idade, na casa da rua do Sodré, pertencente à sua madrasta, Maria Ramos Guimarães, com quem seu pai - o médico José Alves - se casara em 1862. Maria Ramos Guimarães mandara construir o mausoléu da quadra 1 para nele depositar os restos mortais de seu falecido marido. Para esse mausoléu, em 1874, foram trasladados os ossos do poeta, ali permanecendo por 123 anos.

- ARISTIDES PEREIRA MALTEZ (1882/1943)
Baiano de Cachoeira, médico humanista, professor catedrático do Ginásio da Bahia e da Faculdade de Medicina da Bahia, fundador da Liga Bahiana Contra o Câncer e do Instituto do Câncer, o atual Hospital “Aristides Maltez”. Foi destaca médico cirurgião, sobre quem disse o professor Estácio de Lima: “Maltez foi um virtuoso da arte médica. A elegância com que empunhava o bisturi valia tanto quanto o corte. Não era somente o mestre ímpar da ginecologia, empenhava, galhardo, os mais difíceis problemas de cirurgia”. Homem de vasta cultura, professor de francês, matemática, física, química, grego e latim. “Grande vulto, certamente, daqueles que honram e dignificam a terra onde nasceram”. Mausoléu na quadra A.

- BARÃO DE CAJAYBA (1800/1870)
Marechal de Campo Alexandre Gomes Ferrão d’Argolo, entre 1822 e 1823, teve destacada atuação nas lutas pela independência, na Bahia. Também participou da guerra da “Banda Oriental” atual Uruguai. No período colonial foi, como diz a inscrição no seu túmulo: “Grande do Império, Veador de S. Majestade a Imperatriz, Fidalgo Cavaleiro da Casa Imperial, Oficial da Ordem do Cruzeiro, Comendador de São Bento de Aviz, condecorado com a medalha da Independência”.
Foi o responsável pela vinda de Munique, Alemanha, para Salvador da notável escultura que ficou conhecida como Estátua da Fé, obra do escultor alemão Johonn Halbig (1814/1882), em um único bloco de mármore de Carrara, com altura de 1,80m, colocada sobre um pedestal de 2,20m, na parte superior da cripta do mausoléu. Foi adquirida pelo Barão de Cajayba para adorno do jazigo de seu filho primogênito, José Francisco Ferrão d’Argolo, “nascido nesta Província da Bahia a 26 de março de 1841 e falecido em Starberg, na Baviera, a 16 de setembro de 1861”. Mausoléu situado na quadra 5.

- BERNARDO MARTINS CATHARINO (1843-1924)
Português de origem; chegou à Bahia com 17 anos de idade. Dinâmico, tornou-se um dos prósperos homens de negócios do Estado, no século XX. Patriarca da prestigiosa família Catharino. Seu mausoléu esculpido em mármore de Carrara, é encimado pela imagem do Cristo (quadra 2).

- CONSELHEIRO SARAIVA (1823/1895)
Antônio José Saraiva, baiano de Santo Amaro da Purificação, importante político no Segundo Império, chefe do Partido Liberal, mereceu a confiança e a amizade do Imperador D. Pedro II, de quem se tornou amigo e conselheiro político.
“Administrador consciente e probo”, nomeado pelo Imperador Pedro II, “ocupou importantes cargos na vida pública brasileira”, Formou-se em Direito pela Faculdade de São Paulo em 1946. Na Bahia foi membro da Assembléia Provincial. Em 1851, foi nomeado Presidente do Piauí, quando transferiu a Capital do Estado de Oeiras para Terezina, nome este por ele dado à nova Capital, visando a homenagear a Imperatriz Tereza Cristina, esposa de D. Pedro II. O nome é composto de Terez (Tereza), ina (Cristina). Em 1853, o Imperador o nomeou Presidente de Alagoas, onde ficou poucos meses, pois em 1854 foi para a Presidência de São Paulo. Em 1857, assumiu o Ministério da Marinha. Em 1858, foi para a Presidência de Pernambuco. Em 1880, D. Pedro o designou Chefe do Ministério. Proclamada a República , foi eleito Senador pela Bahia.
“Veio a falecer em 1895, legando à posteridade um nome sem mancha, e um exemplo de trabalho perseverante, de desenganado amor às causas públicas”, Está sepultado na quadra 2.

- CYPRIANO BARBOSA BETÂMIO (1818/1955)
Médico mártir, em 1855, da luta contra a epidemia do cólera morbus na cidade de Santo Amaro da Purificação, neste Estado, onde morreu ao contrair essa terrível doença. Quando o cólera se manifestou com grande intensidade em Santo Amaro o pânico foi geral: as autoridade e os poucos médicos fugiram da cidade. Dr. Betâmio, corajosamente ofereceu-se para, gratuitamente, ir para aquela cidade prestar socorro médico à população, terminando vítima do mal que curou em muitos dos seus assistidos.
Em reconhecimento por tão generoso gesto, o Dr. Innocêncio Marques de Góes mandou construir um mausoléu no Campo Santo, onde afixou a placa: “Quando, em 1855, por ocasião do cólera, algumas autoridades e médicos da cidade de S. Amaro, esquecidos os seus deveres, fugiram e, sob a pressão do terror, deixaram
a população destituída de recursos, e quando muitos médicos desta capital recusavam-se a partir para ali, a despeito das ordens do governo, o Dr Cypriano Barbosa Betâmio, médico aqui residente e que não era funcionário público, ofereceu-se para ir prestar n’aquela cidade os socorros de sua profissão, tendo sido igualmente nomeado delegado de polícia. Nessa dupla missão nobre e sobretudo arriscada, o ilustre médico sucumbiu no dia 3 de setembro do mesmo ano. Para reconhecimento de tão heróica dedicação o Dr. Innocêncio Marques D’Araujo Góes, natural e proprietário na cidade de S. Amaro, mediante o concurso de alguns, fez depositar aqui os restos mortais de tão benemérito cidadão” .

- EDGARD REGO SANTOS (1894/1962)
Médico, competente cirurgião, em 1928 assumiu a cátedra de Patologia Cirúrgica da Faculdade de Medicina da Bahia, tendo como campo de trabalho as enfermarias São Luis (para homens) e Santa Maria (para mulheres) do Hospital Santa Izabel, da Santa Casa de Misericórdia. Após a Revolução de 1930, foi nomeado Interventor na Bahia o Tenente Juracy Magalhães, o qual nomeou Edgard Santos para dirigir a Assistência Pública, instalada em precárias condições na Rua da Ajuda, no Centro Histórico de Salvador. Apoiado pelo Interventor, iniciou a construção de um moderno Hospital de Pronto Socorro, no bairro Canela. Foi diretor da Faculdade de Medicina da Bahia de 1936 a 1946, quando fundou a Universidade Federal da Bahia e foi eleito seu Reitor, sendo reeleito diversas vezes. Em 1954 foi Ministro da Educação no governo do Presidente Vargas. Com o suicídio de Vargas, retornou à Reitoria da UFBa. Na Universidade, realizou notabilíssima administração, tendo construído e inaugurado o Hospital das Clínicas, hoje denominado Hospital Professor Edgard Santos.. Em 1961, concluiu seu último mandato e, em seguida, foi nomeado membro do Conselho Federal de Educação, órgão que presidiu até sua morte em 1962. Foi sepultado no cemitério do Campo Santo: “ali permaneceu o corpo durante poucos anos. Em 1969, quando eu era Reitor da Universidade, foram transladados os restos mortais para a Capela do Convento de Santa Tereza”.(Depoimento de seu filho Roberto Figueira Santos, ex- reitor da UFBa. e ex- governador da Bahia- 1975-79).

- ERNESTINA ESTEVES GUIMARÃES (1854/1932)
Baiana, viúva sem filhos do rico português Domingos Martins Fernandes Guimarães, originário da cidade do Porto. Herdeira universal da grande fortuna, constituída principalmente de imóveis, valiosas jóias e contas bancárias, fez-se Benemérita da Irmandade da Casa da Santa Misericórdia da Bahia. Doou à Irmandade dezesseis (16) imóveis em Salvador, avaliados em 1932, ano do seu falecimento (30 de Março), em
684: 000$ (seiscentos e oitenta e quatro contos de réis).Doou, também, jóias para serem vendidas e o resultado financeiro “destinado à instituição de um Asilo para viúvas pobres envergonhadas, de bom comportamento, que sejam velhas e não possam trabalhar”. O Abrigo foi instalado no antigo “Pavilhão do Isolamento” do Hospital Santa Izabel, que, atualmente, abriga a Fundação “Erik Loeff”, de atendimento às crianças com câncer (quadra 1).

- ERNESTO SIMÕES FILHO (1886/1957)
Advogado, jornalista militante desde os 17 anos de idade. A convite do Prof. Virgílio de Lemos, proprietário do Diário de Notícias, ele e o amigo Otávio Mangabeira, estudante de engenharia, também de 17 anos, foram trabalhar naquele jornal. Posteriormente ambos foram trabalhar na Gazeta do Povo. Em 1912 Simões Filho fundou seu próprio jornal, A Tarde, em Salvador. Teve intensa participação na política baiana: foi Deputado
Federal, depois Ministro da Educação em 1952/53 (Governo Vargas).

- FRANCISCO DA CONCEIÇÃO MENESES (1896/1959)
Historiador, membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e seu presidente por longo período. Professor catedrático do afamado Ginásio da Bahia, centro educacional do Estado da Bahia, e seu estimadíssimo e dedicado Diretor. Foi um dos professores que mais marcou a vida de seus ex-alunos. Foi um notável educador .(quadra 10)

- FRANCISCO MARQUES DE GÓES CALMON (1874/1932)
Governador da Bahia de 1925 a 1928, Góes Calmon realizou excelente administração. Sobre ele, disse o escritor Antônio Loureiro : “Homem público dos mais conspícuos, foi, sem dúvida, Góis Calmon. Possuía aquela nobreza e fidalguia dos antigos cavalheiros, aliada a um profundo sentimento patriótico. Jurista e economista dos mais provectos da Bahia. Homem público, a sua administraçãoà frente do governo baiano foi essencialmente proveitosa”. Era membro fundador do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Nomeado posteriormente Fiscal do Banco da Bahia, especializou-se em assuntos de finanças. Seu mausoléu fica na quadra 1.

- JOÃO DA COSTA PINTO DANTAS (1893/1968)
Membro de tradicional família de políticos do Nordeste do Estado da Bahia, onde foi grande líder seu avô, Cícero Dantas Martins, Barão de Geremoabo, Deputado estadual, deputado federal em várias legislaturas, Secretário da Fazenda e da Agricultura do Governo da Bahia. Intelectual com diversificada produção literária. Fundador e Presidente do Instituto Bahiano de Genealogia e Provedor da Santa Casa de Misericórdia da Bahia de 1961 a 1963. (Quadra 3)

- JOÃO FERNANDES DA CUNHA (1921/2006)
Baiano de Juazeiro, economista, escritor, jornalista e professor. Foi diretor do Banco do Estado da Bahia – BANEB, da Superintendência de Urbanização da Capital – SURCAP; fundador, professor catedrático e diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFBa. Na área cultural, membro fundador da Academia de Letras e Artes “Mater Salvatoris”, instituição que presidiu por muito tempo. Às suas expensas, criou a Fundação Cultural João Fernandes da Cunha, à Praça Dois de Julho (Campo Grande), destinada a proporcionar, gratuitamente, a estudantes de baixa renda, acesso à biblioteca e a curso de informática. Irmão da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, compôs a sua Comissão Fiscal. Está sepultado em um carneiro da quadra A.

- JORGE CALMON MONIZ DE BITTENCOURT (1915/2006)
Baiano de Salvador, bacharel em Direito, formado em 1937, pela Faculdade de Direito da Bahia. Ainda estudante ingressou no jornalismo, compondo o quadro de funcionários do jornal A Tarde, onde permaneceu até 1996, quando se aposentou. Em A Tarde foi repórter, secretário de redação, redator-chefe e diretor de jornalismo. Teve destacada atuação na vida política da Bahia: deputado estadual de 1947 a 1955, Secretário Estadual do Interior e Justiça de 1963 a 1966 (Governo Lomanto Júnior), membro do Conselho Estadual de Contas do Estado. Na área educacional, em 1941, ingressou no magistério: professor de Português e História na Escola Comercial Feminina da Bahia; de História da América na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas e de Técnica de Jornal no Curso de Jornalismo, ambos da UFBa. No campo cultural, presidiu, por muitos anos, o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e foi membro da Academia de Letras da Bahia (cadeira nº 23). Irmão da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, de 19 de dezembro de 1966 a 18 de dezembro de 2006, sempre compondo o Definitório (Conselho) até seu falecimento, em 18.12.2006. Está inumado em campa da quadra nº 6.

- JOSAPHAT RAMOS MARINHO (1915/2002)
Destacado homem público da Bahia, jurista de nomeada, professor de Direito Constitucional nas Universidades da Bahia e de Brasília, Deputado Estadual, Secretário da Fazenda da Bahia, Presidente do Conselho Nacional do Petróleo, Senador da República. Excelente orador parlamentar, democrata intransigente, permanente defensor do estado de direito, fez oposição, no Senado da República, à ditadura militar que dirigiu o Brasil de 1964 a 1985. Está sepultado em uma campa da quadre B.

- JOSÉ LUÍS DE ALMEIDA COUTO (1833/1896)
Influente professor catedrático de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Bahia e prestigiado político da época do império do Brasil. Participou do movimento abolicionista, tomando parte ativa na “Sociedade Abolicionista Dois de Julho”, em Salvador. “Ainda na monarquia, foi deputado, por 4 vezes, à Assembléia Provincial e à Assembléia Geral, entre 1879 e 1881. Em 1884 foi Presidente da Província de São Paulo. Por duas vezes foi Presidente da Província da Bahia”. Após a proclamação da República foi Senador Estadual e Intendente Municipal de Salvador, quando fundou o Corpo de Bombeiros da cidade (quadra 1).

- JOSÉ JOAQUIM SEABRA (1855/1943)
Baiano admirável, mais jovem catedrático da Faculdade de Direito do Recife e importante político da chamada República Velha. Exerceu o cargo de Ministro do Interior e Justiça. Em 1905, das cinzas de um incêndio, fez restaurar o prédio da Faculdade de Medicina da Bahia. Do Estado da Bahia foi, por duas vezes, governador, tendo realizado
importante reforma física e administrativa na capital. Elegeu-se, em várias legislaturas, para o parlamento federal, onde foi considerado, em seu tempo, o maior dos oradores públicos do País (quadra 1).

- JOSÉ MARIA DE MAGALHÃES NETTO (1924-2003)
Baiano de Salvador, médico, filho do professor Francisco Magalhães Neto, ilustre Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia, Dr. “Zezito” Magalhães, como era carinhosamente tratado, foi um notável professor de Ginecologia e médico de larga clientela em todo o Estado. Em duas gestões consecutivas, exerceu o cargo de Secretário da Saúde do Governo da Bahia, realizando excelente administração. Sempre mereceu o maior respeito do povo baiano. Após sua morte o Governo do Estado construiu a maior maternidade do Nordeste do Brasil, dando-lhe o nome de Maternidade Prof. J. M. de Magalhães Netto, operada e administrada pela Santa Casa de Misericórdia (Campa, quadra 9).

- LAURO FARANI PEDREIRA DE FREITAS (1901/1950)
Engenheiro, diretor geral da Rede de Viação Férrea Federal Leste Brasileiro, onde realizou grande administração. Político: Deputado Federal constituinte em 1946, faleceu quando era candidato a Governador da Bahia. (Mausoléu na quadra A.)

- LUIS EDUARDO MAGALHÃES (1955-1998)
Baiano de Salvador, filho do ex-senador e ex-governador Antônio Carlos Magalhães. Bacharel em Direito, herdou de seu pai a vocação política. Logo se destacou como hábil articulador. Em 1979 foi o deputado estadual mais votado do Estado, em seu primeiro mandato. Reeleito, foi Presidente da Assembléia Legislativa. Em 1986, chegava à Câmara de Deputados, também com a maior votação do Estado da Bahia. Foi parlamentar muito respeitado, por correligionáriose adversários. Destacou-se pela seriedade no cumprimento da palavra empenhada nos acordos parlamentares. Em 1995 chegou à presidência da Câmara Federal, tendo assumido, em duas ocasiões distintas, a interinidade da Presidência da República. Morreu aos 43 anos de idade, em 21 de abril de
1998, quando candidato ao Governo do Estado da Bahia. Era um dos nomes cogitados à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso. Está sepultado na quadra 16.

- LUIZ TARQUÍNIO (1844/1903)
Filho de modesta família, tendo concluído o curso primário trabalhou como balconista em casas comerciais de Salvador, inclusive na firma inglesa Bruderer & Cia. Dedicado ao trabalho e aos estudos tornou-se: “conhecedor da situação do Brasil em seus aspectos econômicos e sociais” e, em conseqüência, abolicionista sincero, apresentou o plano paraa “Extinção gradual dos escravos”. Dedicou-se ao estudo das finanças brasileiras, alcançando renome nacional. Na Bahia, fundou a pioneira industria de tecidos do Norte/ Nordeste brasileiro, o Empório Industrial do Norte. Primeiro industrial brasileiro a desenvolver uma ação social, com vistas à melhoria das condições de vida de seus operários. Construiu a Vila Operária da Boa Viagem, com 250 unidades domiciliares para os trabalhadores e suas famílias, dispondo de creche, farmácia, ambulatório, capela, escola, água, onde os operários residiam, pagando aluguel módico, tudo subsidiado pelo Empório do Norte. Foi muito respeitado e estimado pelos operários de sua industria têxtil. Morreu no dia 7 de outubro de 1903. “Logo que na Vila Operária da Boa Viagem chegou a notícia da morte de “seu Luiz”, os operários choraram muito, como filhos órfãos” (Eliana Dumet). Nomeado pelo Governador Manuel Vitorino, foi Prefeito de Salvador. No Arquivo Histórico da Santa Casa há uma carta, de 24 de outubro de 1894, por ele dirigida ao Provedor Manuel de Sousa Campos, onde diz : “Acabo de perder minha mãe e sinto que alguma coisa devo fazer para mitigar tão grande golpe. Nem ostentosas pompas fúnebres, nem lutuosas vestes trar-me-ão alívio; assim, faço o que me diz a consciência, remetendo-vos 5.000$ que empregueis em bem dos necessitados. Oxalá possam meus filhos, em momentos angustiosos, matar a própria dor, matando a dor alheia”. (Está sepultado na quadra 7).

- LUIS VIANA – PAI E FILHO (1866/1942 e 1901/1970)
O Conselheiro Luis Viana, o pai, foi chefe de uma grande corrente de opinião na Bahia. Governou a Bahia no final do século XIX. No período do seu governo ocorreu o episódio da Guerra de Canudos.
Luis Viana Filho, professor da Faculdade de Direito da Bahia, foi jornalista, escritor, membro da Academia de Letras da Bahia e da Academia Brasileira de Letras. Biógrafo de Rui Barbosa e do Presidente Castelo Branco, a quem serviu como Chefe da Casa Civil da Presidência da República. Foi ainda Deputado Federal, Senador da República, Presidente do Senado e do Congresso Nacional e Governador da Bahia.
Pai e filho estão sepultados em uma Campa da quadra 7.

- MANOEL VICTORINO PEREIRA (1853/1902)
Um dos brilhantes irmãos Pereira, professor catedrático de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Bahia, cirurgião do Hospital Santa Izabel, político republicano. Foi Governador da Bahia, Senador, Vice-Presidente e Presidente (interino) da República (quadra 6).

- MAMEDE PAES MENDONÇA (1915/1995)
Destacado comerciante de alimentos, de origem sergipana, introduziu na Bahia o sistema comercial do “tire e pague” (auto-serviço), alcançando grande sucesso junto à população de Salvador. Sua empresa de supermercados chegou a se constituir na maior rede de auto-serviço do país, com lojas em Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Homem simples, temente a Deus, dotado de aguda visão do problema social das classes menos favorecidas da população, apoiou inúmeras ações sociais, inclusive a notável obra de Irmã Dulce, da qual foi Conselheiro até falecer (quadra B).

- MENANDRO DOS REIS MEIRELLES FILHO (1876/1947)
Membro de antiga e prestigiosa família baiana, formado em medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1922. Ainda estudante, foi estagiário no Hospital Santa Izabel, da Santa Casa. Especializado em ginecologia, trabalhou por longo período no Santa Izabel. Irmão da Santa Casa, participou de várias administrações da Irmandade, prestando bons e assinalados serviços à mesma (quadra 1).

- MIGUEL CALMON SOBRINHO (1912/1967)
Miguel Calmon Du Pin e Almeida Sobrinho era filho do governador da Bahia , Francisco de Góes Calmon (1925/28). Formado pela Escola Politécnica da Bahia, em 1922, iniciou suas atividades profissionais como engenheiro da Construtora Cristiani Nielsen. Dedicado ao estudo da Engenharia, em 1934 foi para a França , onde se especializou em grandes estruturas na École de Ponts et Chausseés e na École Centrale de Paris. Retornando à Bahia, em 1936, prestou concurso para catedrático de Materiais de Construção da Escola Politécnica. Em 1948 foi eleito presidente do Banco Econômico da Bahia, função que exerceu durante 22 anos. Foi deputado federal pela Bahia, período 1959 a 1963. Em 1964 foi eleito Reitor da Universidade Federal da Bahia, tendo falecido
a 7 de maio de 1967, em pleno exercício do cargo. (Mausoléu na quadra 1).

- NESTOR DUARTE (1902/1970)
Destacado homem de cultura, escritor, jornalista, jurista, parlamentar, professor e diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, onde ingressou como professor, muito jovem, após brilhante concurso. Na Bahia, ainda jovem, participou do Governo de Góes Calmon. Foi deputado estadual e deputado federal constituinte em 1946. No governo de Otávio Mangabeira (1947/1951) foi Secretário da Agricultura, com destacada atuação. Fundou o Instituto Biológico da Bahia. Democrata exemplar, fez conseqüente oposição ao golpe militar de 1964. (Campa, quadra 7)

- NILO SIMÕES PEDREIRA (1930/1964)
Competente engenheiro civil, diplomado pela Escola Politécnica da Bahia. Trabalhou na Empresa Norberto Odebrecht, da qual foi vice-presidente. Presidiu a Associação dos Cacauicultores da Bahia. Em 1993 assumiu a Provedoria da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, quando deu início à profissionalização de seus quadros administrativos, alcançando bons resultados, ainda que só tivesse dirigido a Irmandade por um ano. Em março de 1994 faleceu repentinamente, no exercício da Provedoria.
(Campa,quadra 3)

- OSCAR FREIRE DE CARVALHO (1882/1922)
Professor da cátedra de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Bahia (sucedeu ao Prof. Nina Rodrigues), depois fundador da mesma cadeira na Faculdade de Medicina de São Paulo. Criador do “Instituto Oscar Freire”, na capital paulista, onde se tornou uma das mais importantes personalidades na especialidade de Medicina Legal no Brasil. Em sua homenagem, há uma importante avenida em São Paulo denominada Avenida Oscar Freire. (Mausoléu, quadra 1)

- OTÁVIO MANGABEIRA (1886/1960)
Benquisto homem público baiano, admirável político e democrata, notável orador, professor catedrático da Escola Politécnica da Bahia, Conselheiro Municipal de Salvador, Deputado Federal, em seis legislaturas, membro da Academia Brasileira de Letras, Ministro das Relações Exteriores, Governador da Bahia e Senador da República. Na função de administrador da coisa pública era de uma correção exemplar. Democrata sincero, marcou profundamente a história política da Bahia. Por isso mesmo podia dizer: “Quem está no governo não recebe nem dá presentes. Não compra nem vende nada!”. “Meu ideal é fazer da Bahia um centro exemplar do regime democrático. Na Bahia, como seu governador, posso ter adversários, mas não sou adversário de ninguém” “No governo apago, o mais que posso, a autoridade em que me acho investido, para que se torne bem claro que a não reputo pertencente a mim, senão em rigor, ao povo, de que emana. Abro acesso, o mais que posso, até ao governador, a todos os cidadãos, não Recusando a ninguém, ainda que se apresente de pés no chão ou em andrajos, o direito, ou a oportunidade, de ser ouvido, em pessoa, pela mais alta autoridade do
Estado” Está sepultado em Mausoléu da quadra A.

- OSVALDO VELOSO GORDILHO (1908/1996)
Membro da tradicional família Gordilho, desde jovem destacou-se pela dedicação aos estudos e o desejo de progredir construindo seus próprios caminhos. Diplomado pela Escola de Direito da Bahia foi para o R. G. do Sul onde militou na advocacia por cerca de 4 anos. Retornou à Bahia e assumiu a Secretária Geral da Viação Férrea Federal Leste Brasileiro, com extraordinária eficiência, onde permaneceu por longo período. Deputado Estadual, em 1952, a convite do Governador Regis Pacheco, foi nomeado Prefeito de Salvador. Na Prefeitura reorganizou e modernizou sua estrutura administrativa, daí resultando poder realizar uma notável administração. Professor de Direito Administrativo, foi um dos fundadores da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia e seu diretor. Também foi professor e diretor da Fundação Visconde de Cairú, instituição de muita credibilidade no ensino de contabilidade e finanças. Membro do Tribunal de Contas do Estado e seu presidente. Escritor e conferencista de valor (Mausoléu na quadra 7).

- RAYMUNDO NINA RODRIGUES (1862/1906)
Originário do Estado do Maranhão, quando jovem veio para Salvador para estudar. Médico pela Faculdade de Medicina da Bahia, depois tornou-se professor catedrático, de grande nomeada e prestígio científico, na cadeira de Medicina Legal. Alcançou renome internacional e, em abril de 1906, foi nomeado, pelo Ministério da Justiça e Negócios Interiores, para representar o Brasil no Congresso Internacional de Assistência Pública e Privada, em Milão, na Itália. Fundador do primeiro Laboratório e do Museu de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Bahia, pioneiro nos estudos de Etnografia, Antropologia Física, Criminal e Cultural. Também produziu estudos de Psiquiatria do mestiço indígena e afro-descendente e do africano, componentes do povo brasileiro. Conhecido internacionalmente como criador da Escola da Bahia, faleceu em Paris, França, depois do que, seu nome veio a denominar, na capital baiana, o Instituto Médico- Legal “Nina Rodrigues” (Campa, quadra 7).

- TEODORO GOMES TEIXEIRA (1851/1924)
Notável Provedor da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, quando realizou administração eficiente, recuperando, à época, a credibilidade da instituição. Seu mausoléu tem anjo semeando flores, símbolo de atividade realizadora (Mausoléu, quadra 2).
 
 
 
Curiosidades
- A ARTE SILENCIOSA
O Cemitério do Campo Santo é, na Bahia, o local de maior expressão da chamada Arte Silenciosa. Lá se encontram manifestações artísticas dos estilos renascentista, barroco, gótico, moderno e contemporâneo, permitindo traçar uma linha evolutiva da escultura, da arquitetura e até da poesia baianas e brasileiras.
Grande parte dos seus túmulos traz elementos arquitetônicos greco-romanos, e por isso muitos dos símbolos lá encontrados estão ligados aos mitos da antiguidade clássica. O Cristianismo também é uma presença constante nos túmulos do Campo Santo, e aparece nos crucifixos, na representação das Virtudes, ou em torno de elementos pagãos absorvidos no Renascimento.

- A ORIGEM DA PALAVRA CEMITÉRIO
A palavra cemitério, de origem grega, significa originariamente, dormitório. Esta significação é bastante coerente com a tradição judaico-cristã, em que a morte é a dormição do corpo, à espera da ressurreição. Por esse motivo, até a segunda metade do século XIX, era nas igrejas, e em volta delas, que se sepultavam os mortos de certa posição social. Somente os escravos ou condenados à morte eram enterrados a céu aberto, em locais distantes. As Irmandades e Confrarias tinham suas igrejas, onde eram inumados os membros dessas congregações e seus familiares. Ser sepultado longe da igreja era uma desonra naqueles tempos. Por isso, quando os órgãos governamentais, por questões sanitárias, decidiram proibir o sepultamento nas igrejas, houve uma imensa reação. Aqui na cidade do Salvador, o Governo Provincial, em junho de 1835, decidiu autorizar uma empresa privada a construir e explorar o primeiro desses cemitérios, ditos modernos, erguidos longe dos centros urbanos. Houve protestos de todas as partes, mas apesar disso, em 23 de outubro de 1836 foi inaugurado este Cemitério do Campo Santo. Dois dias depois, porém, a população o invadiu e destruiu, jogando abaixo seus muros e a própria capela. Esse episódio passou à história da Bahia com o nome de “Cemiterada”.

- CEMITERADA
Acontecimento marcante na história do século XIX, na Bahia, a Cemiterada foi uma revolta de participação popular organizada pelas irmandades e ordens terceiras de Salvador contra a criação do Cemitério do Campo Santo, e principalmente contra a lei que entraria em vigor proibindo o tradicional costume de fazer enterros nas igrejas. A manifestação ocorreu na manhã de 25 de outubro de 1836. Foram tocados os sinos de várias igrejas para chamar a população que se reuniu no Terreiro de Jesus. Deste ponto foram para a Praça do Palácio - onde hoje é a Praça Municipal. Houve a invasão do palácio e a proibição foi suspensa até o dia 7 de novembro do mesmo ano. A multidão partiu em direção ao Campo Santo. O escritório da empresa funerária foi apedrejado, e em menos de uma hora tudo havia sido queimado e destruído.

- O PRIMEIRO SEPULTAMENTO
Três anos depois, em 1839, a Santa Casa de Misericórdia resolveu comprar o Cemitério do Campo Santo e, aos poucos, num trabalho de educação da comunidade, fazê-lo funcionar. O primeiro sepultamento aconteceu em 1º de maio de 1844. Mas a alta sociedade baiana só passou a inumar seus mortos no Campo Santo, por volta de 1855, onze anos depois. A partir de então, este se tornou um dos mais belos cemitérios do mundo, graças ao hábito de se erguer mausoléus sempre mais artísticos e solenes, como forma de homenagear os próprios mortos.

- SANTAS CASAS DE MISERICÓRDIA
As Santas Casas de Misericórdia, originárias de Lisboa, ao longo do tempo tornaram-se significativas instituições de assistência médica e social no mundo português. Sem fins lucrativos, prestam assistência às pessoas pobres, tendo por fundamento o que preceitua o evangelho de São Mateus, em o Juízo Final. (cap. 25). Em seus Compromissos (Estatutos), todas as Santas Casas fixam como regra de conduta as 14 obras de misericórdia: 7 espirituais e 7 corporais.
As 7 Espirituais são: 1) Ensinar aos ignorantes, 2) Dar bons conselhos, 3) Punir os faltosos com compreensão, 4) Consolar os que sofrem, 5) Perdoar as injúrias recebidas, 6) Suportar as deficiências do próximo e 7) Pedir a Deus pelos vivos e pelos mortos.
As 7 Corporais são: 1)Tratar os doentes, 2) Visitar os presos e resgatar os cativos, 3) Vestir os nus, 4) Dar alimento a quem tem fome, 5) Dar de beber a quem tem sede, 6) Abrigar os pobres e os peregrinos e 7) Sepultar os mortos.
Para cumprir tais preceitos, as Santas Casas têm construído e mantido hospitais, cemitérios, escolas e obras sociais das mais diversas. Atualmente, das 866 Irmandades da Misericórdia existentes no mundo; 464 são brasileiras, a maioria no Estado de São Paulo. Na Bahia existem 34. Em todo o mundo, as Santas Casas mais significativas são: a de Lisboa, fundada em 1498, a de Gôa (Índia), em 1515, a da Bahia, em 1549, a de Macau (China), em 1659.

- SEPULTAMENTOS DEMOCRÁTICOS
Nos Livros de Registro de Sepultamentos do Campo Santo, constam, entre tantas outras, as seguintes inumações, que afirmam a não discriminação do falecido, qualquer que fosse
a sua origem:
· Em 08.05.1855 - Visconde de Pedra Branca
(Domingos Borges de Barros).
· Em 20.06.1860 - Maria do Bomfim, 60 anos, africana, escrava,
solteira,.
· Em 13.08.1860 - Anna Rita, 20 anos, africana,
escrava.
· Em 10.12.1860 - Luiza Maria da Piedade, 50 anos, africana, escrava.
· Em 03.06.1862 - Paulo Alfred Maguais, menor, 3
dias de vida,
· Em 06.06.1875 - Francisco Augusto da Silva, 60
anos, magistrado.
· Em 26.04.1876 - Estephanis Adine, 43 anos, francesa, freira.
· Em 11.04.1876 - Barão de Catú (Constantino L. Rossi Silva).
 
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